sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Chama-me de vento e você nem é o oxigênio ou a chama que aquece. Intitula-se fumaça. Passa por mim, intoxica-me com sua atmosfera inebriante e depois sai, deixando círculos de marasmo, sarcasmo e autocontrole. Eu, vento, vendo como me reajo. Fico densa, prejudicada, acompanhada de rumores e dissabores.
Eu, vento, cansada dessa volubilidade, da efemeridade mais exata, da cautela que devo ter em galhos disformes, em árvores delicadas. A tempestade chega e arregaça com meu talento. Toma meu lugar, nem analisa os contratempos. Tempo, tempo, tempo, não quero mais seu alento.
Podia sentir meu coração batendo, podia sentir o seu também. A cada respiração profunda me levava ainda mais para uma lugar aveludado, quente e protetor. Seu abraço tinha esse poder. De me teletransportar para o melhor lugar. Seu abraço, sim, seu abraço mesmo. E quando me diziam que o melhor lugar nunca foi um lugar, foi pq não conheceram seus braços.

Às vezes me pego vivendo só por viver
e me deparo que a vida é bem mais que isso
A rotina, o certo, o errado, o difícil
o cômodo, o intacto, o contato

Eis que algo surge e me retira dos sons mais poluidores

dos buracos mais negros e frios
Eis que a arte surge e me assopra o valor da vida
Algo que expõe as vísceras e revela o amor mais puro
Algo que dá sentido e me faz ter sido
Me faz ser, ser filha da esperança de que apenas seja

Rompidos os atos cotidianos

fazer o que tem de fazer
valer o que tem de valer
fazer valer

Mover-me diante dos astros

seja Lua, Vênus, Mercúrio ou Marte
Transcender e abalar os símbolos
Saber viver no meio influenciável, modelável
Meio aniquilador, com muito torpor
lembrando da sua história, do seu valor
acrescentando na amálgama do amor e do que é viver
Viver, amar e ser.



Afaste, aparte, a parte dum todo
numa fusão de introspecção
a arte em ter- cido, molhar o pano da vida pra ida
que envolve o laço, o abraço

estar onde se quer que diz, mover a diretriz
mas acredito e peço: o faça
que a potência psicopática não se desfaça

existo enquanto me invento
no alento da carne, da arte vou vivendo
na certeza de que nada sou
mergulho na luz escura que a tudo se esclarece
e diante da pele do coração
crio próprios êxitos com meus existos

a vida segue com muito a aprender...



Ei, beija-flor

Ei, beija-flor, olhe para si, há tanto amor.
Tu que colhe sabor por entre jardins, admira os alheios e por eles encontra mais visco.
Talvez seja mais bonito o que é visto.
Por entre sorrisos, felicidades extremas, pensas que a sua perde o brilho
Mas digo e repito: olhe pra si, há tanto amor.

Não vejo peso em suas costas, vejo cores
Persistência em seu bico
e muito esplendor em seus olhos
e flores, muitas flores.

Olhe para si , beija- flor!