domingo, 28 de julho de 2013

Desabafos de domingo

Adoro, não adoro, eu realmente amo quando minha mente borbulha por palavras.A velocidade de querer extrair e registrar é tão grande que não gosto de perder um segundo sequer. Chega a ser cômico; pois, talvez por ser mulher vem inúmeras vontades ao mesmo tempo. Vou explicar. Enquanto cozinhava, via tv e ainda queria escrever. O arroz andava despreocupado mergulhado na segunda água, esta que já se secava no feijão, ia á procura de meu celular. E ele, inesperadamente, estava falhando bem na parte de apagar. Vê se pode, um mero artefato tecnológico me impedindo de errar. Eu não pude permitir isso! Fui á procura de um papel e caneta - esses sim nunca falharão, embora o nunca seja utilizado impropriamente como agora, sem dúvida, eles são mais seguros. É algo rústico e é bom testar a minha letra em um papel em plenas férias. Minha letra rápida, cuspida, quase de uma médica foi se esvaindo da tinta vermelha enquanto meu pai me chamava para mostrar a parte mais bonita do filme as "Crônicas de spiderwilk". É uma cena de admirar quando a senhora volta a ser menina e pode rever seu herói, o seu pai que ficara preso no mundo das fadas. Eu gosto mesmo e até gostei por meu pai ter me chamado nesse momento para ver. Enquanto isso, a couve-flor fervia loucamente. E eu continuava escrevendo e lendo. Lendo ao meu pai. Fico abismada como ele me aguenta e gosta de ouvir minhas leituras, seja um poema, uma redação, um desabafo. Ele está psicológico e geneticamente a me amar, eu sei, mas é linda a atenção que ele sempre me deu. Quero muito responder á altura aos meus filhos."Filha, o feijão tá queimando!" Aii, cacete...Rimos juntos.E continuo a escrever e mostrar a ele como funciona essa máxima. Penso o início e o resto brota com uma força que assusta. Até imagino meu cérebro vasculhando todas as informações adquiridas com minha breve vivência. Falo a ele de uma reportagem que li. Era sobre os escritores na FLIP -lugar que farei questão de ir quando tiver independência financeira- mas, voltando, esses escritores influentes e já bem renomados estavam dando dicas aos escritores iniciantes e pronunciando uma coisa curiosa; de oito em dez entrevistados, disseram que para ser um bom escritor você nunca deve deixar de ler. Parece confusa ou óbvia essa dica, mas possui uma pureza, uma astúcia de gigante! Leia, leia, leia, não pare de ler. Leia de tudo.Um Lemond, uma Piauí, uma Carta Capital, um Estadão, uma Veja, uma Tititi, leia um outdoor, leia placas, leia anúncios, leia olhares, leia bocas, leia gestos, leia pessoas, leia intonações, intenções. Apenas leia, absorva, guarde com si mesmo. Uma hora será utilizado tudo que você acumulou e partindo de outro clichê, o conhecimento arraigado é a única coisa que jamais roubarão de vc, seja curioso, seja humilde ao saber que nada sabe, seja um aspirador de conhecimento, palavras, pessoas, lugares, seja um aspirante á vida! Amo ler, sempre há um desafio nesse ato, uma sedução que te envolve e reconhecer isso ultrapassa qualquer entendimento. Não quero perder o fio da meada. Falava dos escritores da FLIP e achei bem curiosa a dica e mais do que já exercê-la é fazê-la ser um modo de vida, um norte ou toda a rosas dos ventos. Tornar-se um fundamento que limpe o espírito, o corpo. Retirar todas as impurezas que insistem em estar pregadas pelas pegadas. Meu pai achou interessante, concordou e disse: -"Não pare então,Dona moça rs"...- "Não pararei,pai. Amo as palavras e a beleza de como elas se encaixam, se copulam.Elas nascem, crescem, reproduzem mas nunca morrem." Voltei á comida correndo, o arroz me chamava com o chiiiii da panela seca. Quando a prática te visita, os olhos não são mais necessários na cozinha, muito menos o paladar durante o experimento mais lindo da alquimia. Perseu sempre diz: O melhor laboratório da sua casa é a cozinha. Concordo plenamente. Quando se torna um bom químico, o tato,a audição e a intuição recebem mais importância.Todas elas envolvidas na experiência, é claro. Não vamos falar de modéstia na cozinha como se cozinha desde os 10 anos de idade, né, por favor. Meu pai pergunta. Esse almoço sai ou não sai? Sai sim, pai enquanto voltava a escrever. Falava também para engabelá-lo enquanto o pernil se banhava no mel e na cebola. Vou pegar um alface mimosa, vc quer? Sim,eu qué. Não, pai é eu Q-U-E-R-O...rs Brinco rs. Adoro corrigir o português do meu pai. Eu sei que nessa hora ele só estava imitando uma criança rs, mas falo da correção ortográfica mesmo.Falo: pai, o senhor não é índio para falar mim comer e além de corrigir, explico a diferença.Geralmente as pessoas se emburrecem quando são corrigidas.Mas li uma frase um dia e sempre lembro dela. "Um sábio agradece por uma correção". E meu pai sem ao menos saber dessa frase, exerce sua sabedoria, curiosidade, e, agradecido se preocupa em falar certo engrandecidamente. Acho bonito, pois estou fazendo um bem a ele. Volto ao almoço, termino fritando a couve-flor empanada e tempero a salada. Vem pai, faça seu prato. Já é umas três da tarde. É domingo, tá gostoso o dia e hoje pode tudo atrasar. Não tenho medo da perda do meu tempo no domingo.Cozinho, converso, sambo vendo Esquenta, e ainda dou tempo ás minhas palavras. Essas, sim; nunca, mas nunca mesmo serão perdidas!

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